A comoção social na Sociedade Brasileira, ocorre sempre como forma de revolta da população perante casos de violência que tem grande enfoque da mídia. Devido a este enfoque, que muitas vezes é apelativo e exarcebado, muitas pessoas se sentem compelidas a protestar em portas de delegacias e tribunais pedindo justiça, ou seja, a condenação dos supostos culpados de tais crimes.
Um dos casos mais famosos na atualidade de comoção social é o assassinato da criança Isabella Nardoni que por meses teve enfoque principal em todos os veículos da imprensa de nosso país, gerando inúmeros protestos da população em frente às portas de delegacias, de fóruns e na própria casa onde os acusados estavam.
Essa comoção social após o crime ocorrido é totalmente ineficaz, visto que muito desta revolta popular vem pela manipulação da mídia, pois normalmente a sociedade só se mobiliza quando os veículos da imprensa dão enfoque contínuo ao crime. Pois a violência de uma forma geral ocorre diariamente na sociedade, inclusive a violência contra crianças e quando não há pronunciamento da mídia, a maioria das pessoas permanece inerte, e porque não dizer indiferente ao fato.
Podemos chamar essa inércia/indiferença de anestesia social perante a violência contra as crianças que ocorre em todas as classes sociais e em todos os núcleos culturais da sociedade brasileira. O que normalmente ocorre é que após um crime contra criança de grande evidência na mídia se inicia uma agitação social na qual as pessoas vão as ruas fazer protestos, mas dentro de seu próprio núcleo comunitário continuam inertes, não ajudam e nem observam as crianças de sua própria comunidade. Assim tais protestos se tornam ineficazes, pois de que adianta a sociedade gritar por justiça se os indivíduos não protegem efetivamente as crianças de tais injustiças.
Portanto essa comoção posterior não tem nenhum efeito benéfico aos menores. E nem à sociedade, pois não conscientiza a população a evitar novos crimes contra as crianças e a comunidade se fixa em apenas um caso específico e depois deixa de ser a principal notícia na imprensa e simplesmente voltam à anestesia social em que viviam.
Concluindo tais revoltas não ajudam a efetivar o dever constitucional da sociedade em zelar pelas crianças e adolescentes.
Ao invés da comoção social normalmente gerada pela mídia, deveria haver em nossa sociedade, através da educação, a conscientização das pessoas na proteção e no zelo de suas crianças como uma realidade social, na concepção de Emile Durkheim, um fato social:
É um fato social toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coação exterior...que é geral no conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações individuais...Todas as maneiras de ser, fazer, pensar, agir e sentir desde que compartilhadas coletivamente. Variam de cultura para cultura e tem como base a moral social, estabelecendo um conjunto de regras e determinando o que é certo ou errado, permitido ou proibido.
Então por mais que um fato gere grande repercussão social com a exploração contínua pela imprensa, que é a comoção social, tal fato deixará de ser do interesse da sociedade na mesma proporção em que a mídia deixar/diminuir o foco ao assunto.
Já o fato social é uma idéia, regra ou conceito que surge como consequencia da educação das pessoas. Assim é uma regra que é ensinada com o passar do tempo e se internaliza na sociedade como um princípio de vontade coletiva, que é respeitado se não por todos mas pela grande maioria.
Desta forma a proteção da criança e do adolescente seria incluída na idéia de moralidade dentro da cultura brasileira, resultando no efetivo cuidado e proteção aos nossos pequenos, mudando o atual panorama social, onde as pessoas apenas se pronunciam mediante forte apelo midiático.
A imprensa que se foca apenas em casos pontuais, poderia se tornar uma ferramenta de transformação do pensamento da população brasileira, incentivando a proteção da criança, inserindo tal princípio na mentalidade dos brasileiros através de programas educativos, debates e abordagens sobre as formas das quais a sociedade dispõe para proteger a criança. Deveria mostrar não apenas a violência, mas ensinar de como prevení-la, introduzindo a idéia do dever constitucional e moral de zelar pela infância e juventude, bem como orientando as formas de agir no mínimo sinal de violência infantil, como por exemplo, indo ao Conselho Tutelar, ao Ministério Público, às Delegacias Especializadas, às Ongs, etc., dando a efetiva proteção à criança e ao adolescente em toda a sociedade e não apenas atribuindo ao Estado esse ônus, afastando a anestesia social.
Bom dia,Tatiana. Ótima postagem. O enfoque na ação social realmente é preponderante para o alcance de um objetivo impactante no cenário social. Penso que dá o peixe é uma caridade, ensinar a pescar uma ação social mais duradoura e propiciar ações governamentais para subsidiar estas ações é o foco das políticas públicas, o ideal do trabalho social. Abraços.
ResponderExcluirhttp://painelgestaorganizacional.blogspot.com
Bom Dia Ilber, concordo com você, pouco adianta a caridade sem a prevenção e o ensino propriamente dito.Abraços
ResponderExcluirTatiana